Cosmethica em série: Dear White People
Se você ainda não começou a assistir a série “Cara Gente Branca” (Dear White People), que já está disponível na Netflix, adicione em sua lista! A série continua onde o filme de 2014 com o mesmo nome parou, mas não é necessário ter visto o filme para assistir a série.
Enredo
Centrado em torno de Sam White, apresentadora de um programa de rádio universitário e líder dos estudantes negros da fictícia universidade de Winchester, a série criada e produzida por Justin Simien, mostra em 10 episódios um grupo de estudantes negros dentro do ambiente da universidade. Lá, eles transitam numa paisagem “pós-racial” com injustiça social, preconceito cultural e racismo sistêmico.
Polêmica
Quando Netflix lançou o trailer em fevereiro, um grupo de assinantes estadudinenses (possivelmente brancos) se sentiram ofendidos pelo nome da série e alegaram que o série era anti-brancos e criaram a hashtag #BoycottNetflix.
O chocante é que mesmo antes do seu lançamento, ocorrido na última sexta-feira, houveram muitos comentários sobre “vitimismo” ou racismo reverso, o que é um absurdo.
Identidade
Apesar das tensões raciais serem muito mais explícitas nos EUA do que no Brasil, em muitos momentos a série da Netflix, as pessoas de todo mundo se reconheçam imediatamente. Principalmente as pessoas que fazem/querem transição capilar, é muito interessante que no decorrer dos episódios como a ideia de beleza evoluí, as personagens começam a achar beleza nos seus cabelos naturais.
Liberdade Capilar
Atualmente vivemos um momento muito positivo em que as mulheres estão assumindo os seu cachos, que não é somente um cabelo liso que é um cabelo bonito e aceitável na sociedade. Mas ainda, há muitas mulheres que acreditam que seu cabelo não é bom o suficiente por causa do condicionamento da grande mídia. A série explora as diferentes nuances e não apenas determina: “Quem tem o cabelo natural, é bom ‘ou’ Quem alisa, é mau.”. Mas explora a necessidade de assimilar o processo que os cabelos naturais também são bonitos.
A série obriga as pessoas a pensar sobre suas palavras e suas ações. Principalmente nos pontos da aparência, sem querer dar spoiler, mas numa cena, uma garota branca pega no cabelo de um rapaz negro e pergunta: “Você se incomoda?” parece ser uma coisa corriqueira, mas vejo vários relatos de garotas que as pessoas pegam em seus cabelos sem permissão, se você não tem intimidade com a pessoa não faça isso JAMAIS.
País miscigenado
Um país miscigenado como o Brasil, referências associadas a características europeias e norte-americanas raramente representam a realidade, porque de acordo com o censo de 2010 do IBGE, mais da metade (53,6%) da população brasileira é formada por negros e pardos. No entanto, a representatividade negra na mídia e nos ideais de beleza ainda é bastante restrita. Lembrando o concurso de Miss Brasil 2016 teve sete candidatas negras, e levou 30 anos, para que uma mulher negra fosse eleita Miss Brasil.
Apesar disso, o mercado brasileiro de cosméticos ainda é limitado quanto à oferta de produtos que atendem às características específicas da pele negra e dos cabelos cacheados. Resultado: o mercado formado por 104 milhões de brasileiros negros ainda é encarado como um nicho.
Cachos bonitos e lucrativos
Aqui no Brasil, a valorização dos cabelos cacheados e a busca por tratamentos que mantenham os fios saudáveis são um novo mercado que ganha força no Brasil e trouxe para as mulheres de cabelos cacheados e crespos um redescobrimento da beleza natural de seus cabelos. Na verdade o mercado cosmético percebeu que uma mulher de cabelos cacheados ou crespos usam muito mais produtos do que uma mulher de cabelo liso, basta acompanhar os grupos nas redes sociais de low/no poo o grande volume de produtos que são consumidos pelas usuárias.
Cabelos lisos (mesmo os alisados):
Shampoo, condicionador, máscara capilar (quinzenalmente), protetor termico.
Cabelos cacheados e crespos
Shampoo, condicionador, máscara capilar (semanal), ativador de cachos, modelador de cachos, leave-in, óleo finalizador, protetor térmico, óleo capilar.
A lista só aumenta caso o usuário optar em fazer um cronograma capilar, onde alterna entre itens de hidratação, umectação e nutrição capilar.
Mais do que moda passageira, assumir os cachos é um posicionamento político, é um movimento de empoderamento da mulher, de se permitir e se amar ser do jeito que é!
Ubuntu*
As pessoas devem deixar de lado as críticas superficiais e assistir a série com a mente e o coração aberto buscando o entendimento de que a piadinha racista sobre o tom de pele, ou diminiur alguém devido ao penteado já não tem mais espaço na sociedade atual.
Nós como sociedade estamos passando por um caminho de auto-descoberta, que estamos tentando descobrir quem somos, e qual tipo de sociedade queremos ter. Sim, as pessoas são diferentes, mas somos mais semelhantes do que pensamos, e devemos ter compaixão e compreensão e tolerantes uns dos outros.
Em outras palavras: É a série coloca o dedo na ferida, apontando o racismo nosso de cada dia, ela é muito oportuna, atual, provocadora e imprescindível em 2017!
*Ubuntu significa “Humanidade para com os outros”.
Serviço:
Série: Cara Gente Branca (Dear White People)
Primeira Temporada: 10 episódios
Censura: 16 anos
Disponível na Netflix: 28/04/2017