Parabenos e Câncer de mama: o que se sabe até agora
Cada ano vem aumentando a adesão ao movimento mundial “Outubro Rosa”, que visa chamar atenção, diretamente, para a realidade atual do câncer de mama e a importância do diagnóstico precoce.
O importante é, na realidade, focar este sério assunto nos 12 meses do ano, já que a doença é implacável e se faz presente não só no mês de outubro. No entanto, este mês é representativo para a causa, tornando-se especial e destacado dos demais.
Um dos temas polêmicos sobre este assunto é sobre a relação dos conservantes, em especial os parabenos com o câncer de mama, mas o que se sabe realmente até agora?
Na Europa eles são banidos de todos os produtos cosméticos, nas américas são liberados, mas cada vez mais as empresas estão reduzindo sua aplicação em seus produtos, devido a má reputação que este componente adquiriu ao longo dos anos.
O que são conservantes?
Um conservante é um ingrediente de origem natural ou sintética que, adicionado aos alimentos, medicamentos e cosméticos, evita a degradação do produto, bloqueando o crescimento microbiano ou alterações químicas indesejáveis.
Por que os conservantes são aplicados nos cosméticos?
O uso de conservantes é essencial para os cosméticos para evitar danos ao produto causados por microorganismos e para proteger o produto de contaminação durante o uso pelo consumidor.
Um ingrediente que protege o produto do crescimento de microorganismos é chamado antimicrobiano.
Sem conservantes os produtos cosméticos, assim como os alimentos, podem ficar contaminados, levando à deterioração do produto e possivelmente irritação ou infecções.
A contaminação microbiana de produtos, especialmente aqueles usados ao redor dos olhos e na pele, podem causar problemas de saúde significativos e até graves.
Os conservantes ajudam a evitar tais problemas.
Os conservantes mais utilizados na indústria cosmética
Tanto a ANVISA, como a União Européia e o FDA possuem uma lista com aproximadamente 60 substâncias de ação conservante liberadas para uso nos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, entretanto por questões de longevidade, segurança e viabilidade econômica, a indústria cosmética utiliza principalmente os parabenos, liberadores de formol, sais orgânicos e metilcloroisotiazolinona e associações.
Parabenos
Os parabenos têm sido utilizados como conservante cosmético há mais de 80 anos devido às suas excelentes propriedades antifúngicas, antimicrobianas e baixíssima irritabilidade dérmica.
Eles podem ser usados sozinhos ou em combinação, em função da necessidade.
Os mais utilizados em cosméticos dessa categoria são metilparabeno, propilparabeno, butilparabeno e etilparabeno, independentemente se o produto for enxaguável ou não.
Função:
Os parabenos são usados nos cosméticos devido ao seu amplo espectro de atividade, atuam em bactérias, bolores, leveduras e fungos, além de não interagirem com as outras substâncias da formula, possuem alta estabilidade química e são biodegradaveís.
A polêmica dos parabenos
Devido a sua alta tolerância cutânea, baixa toxicidade e baixo custo, até o início do século eles estavam presentes em quase 80% dos produtos cosméticos, mas em 2004 a pesquisadora Dr. Philippa Darbre publicou no Journal of Applied Toxicology um estudo que encontrou parabenos nos tumores de mama.
O que o estudo alega
O que preocupa os defensores da saúde pública é a exposição cumulativa aos produtos químicos que pode sobrecarregar nossos corpos e a maior preocupação é que os parabenos podem estar relacionados ao risco de câncer de mama e toxicidade reprodutiva.
De acordo com o estudo os parabenos imitam o estrogênio ligando-se aos receptores de estrogênio nas células. A pesquisa mostrou que o influxo de estrogênio recebido além dos níveis normais pode, em alguns casos, desencadear reações como o crescimento da divisão celular da mama e o crescimento de tumores.
Mas esta pesquisa, além de polêmica trouxe certas incoerências. A principal delas reside no fato de que os pesquisadores não avaliaram a presença dos parabenos nas células saudáveis do corpo.
Outro ponto importante a ser mencionado é que os parabenos ocorrem naturalmente em um grande número de alimentos tais como a amora, a cevada, morango, groselha, baunilha, cenoura, pêssego, feijão branco, cebola. E em alimentos preparados a partir de plantas (suco de uva, outros sucos, vinho branco, vinagre de vinho, extratos de levedura e certos queijos. Eles também são encontrados em produtos produzidos por abelhas (própolis, geléia real, etc.).
Parabenos são naturalmente encontrados no corpo humano e mais particularmente nas mulheres como precursora da coenzima Q10 e podem ser sintetizados por bactérias marinhas como meio de defesa contra outros microorganismos.
Apesar dos dados preocupantes tanto o FDA quanto Comité Científico dos Produtos de Consumo da União Europeia Scientific Committee on Consumer Safety (SCCS) ainda acreditam, não há razão para os consumidores se preocuparem com o uso de produtos cosméticos contendo parabenos.
Pressão Popular
Na última década foram pesquisados todos parabenos e os resultados até o momento são inconclusivos, mas mesmo assim muitas empresas já não o utilizam em suas composições, atendendo o apelo da mídia, mais do que amparado por resultados científicos. E com isso independente do real resultado o número de itens sem parabenos aumentou exponencialmente nas prateleiras do mundo todo.
Claro que os cuidados com a saúde pública são importantes, principalmente em tempos em que a opinião pública está diligentemente em busca de alternativas saudáveis, mas as empresas de cosméticos podem saltar na vala dos sem parabenos (paraben-free) sem realmente fazer uma avaliação adequada se os conservantes que estão adicionando em suas formulações são realmente mais seguros do que os parabenos.
Com base na literatura científica existente disponível no momento ainda não se conseguiu criar uma lista de conservantes mais seguros.
Para conhecer quais são as alternativas para os parabenos leia: Anatomia dos Cosméticos – Conservantes
Referências
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